“Não consigo dormir; pareço um pássaro solitário no telhado”.
(Salmos 102.7)
(Salmos 102.7)
A solidão é uma visita indesejável. Ela entra sem pedir licença e incomoda sobremaneira. Quando, então, a solidão deixa de ser visita e se torna uma companhia constante, o coração parece chorar o sofrimento mais difícil de se suportar: aquele que se sofre sozinho.
Quando decidimos ficar sozinhos para meditar, por exemplo, a solidão muda de nome. Ela deixa de ser visita que incomoda, porque é nossa decisão visitá-la… Quando, voluntariamente, decidimos visitar a solidão, ela se transforma em solitude. Solitude é estar só, mas não solitário. É estar só, mas com plena capacidade de estar em comunhão consigo mesmo e com Deus.
Quem não consegue estar em solitude possivelmente sofrerá o terrível mal da solidão. E a pior tragédia que acomete aos solitários é o sentimento de vazio interior. Quando estamos vazios de sentido, quando perdemos o norte, a direção, então a solidão invade totalmente nosso ser e, por isso, entramos na crise da existência. A dor que lateja no coração solitário é a dor de estar desacompanhado de si mesmo. É não-estar-em-si. É sentir-se perdido dentro de si mesmo. É tentar encontrar-se, contudo só encontrar a famigerada solidão ocupando cada um dos quartos da grande casa que se chama corpo humano. Aliás, grande casa, porque dentro do nosso corpo cabe o universo inteiro… e quando somos absorvidos pelo exterior e nos perdermos de nós mesmos, sentimo-nos solitários, vazios e questionamos se a vida vale a pena ser vivida assim.
Solidão existencial é a crise do ser humano diante de si mesmo. É a nossa incapacidade de lidar com aquilo que nos é peculiar. Caímos enfermos quando somos acometidos de solidão justamente porque a solidão é a presença da ausência, e sentir-se ausente de si mesmo leva o ser humano a crises cujas consequências são desastrosas.
A solidão pode acometer-nos quando somos tolhidos da presença daquilo que mais amamos. Quando perdemos a presença daquilo a que damos o nome de “sentido da nossa vida”, então a solidão invade e nos domina. Se damos a algo o nome de “sentido da nossa vida” então quando perdermos este algo seremos possivelmente dominados pela solidão. É que aquilo que preenche esta grande casa chamada corpo é o nome que damos às coisas e às pessoas, e não as coisas e as pessoas em si. Por isso, quando perdemos as coisas e as pessoas, ou sentimos a ausência das coisas e das pessoas que amamos, então o nome perde o sentido por não encontrar o referencial do que é significado. O significante sem o significado torna-se, portanto, vazio. É aí que entra a solidão! É que a solidão é visita que só se faz companhia quando encontra uma casa vazia.
A solidão, por isso, tem um aspecto extremamente positivo. Mostra-nos o desajuste no qual nos encontramos por não ter a presença daquilo ao que damos o nome de essencial. Resolver o problema da solidão, portanto, sugere ou que tenhamos aquilo que desejamos, ou que mudemos os nomes que previamente já programamos dentro de nós como essencial para nós. O segundo passo, claro, é bem mais complexo, contudo pode ser o melhor caminho se o primeiro for inviável, haja vista que geralmente os solitários crônicos não sabem o real motivo da sua solidão. Dizem:
“sinto-me sozinho, mas não sei o porquê”. Ora, se não se sabe “o porquê”, talvez seja por ele não existir mesmo. Alguns teóricos denominam isso de “solidão essencial”.
“sinto-me sozinho, mas não sei o porquê”. Ora, se não se sabe “o porquê”, talvez seja por ele não existir mesmo. Alguns teóricos denominam isso de “solidão essencial”.
A cura para solidão essencial é dar sentido à existência. Damos sentido à existência quando reconhecemos que precisamos buscar a presença que nunca se faz ausente. Ora, não podemos dizer isso em relação às coisas e nem às pessoas, já que coisas podem ser perdidas, roubadas, quebradas, destruídas… e as pessoas podem nos abandonar, rejeitar, trair…
A Presença, portanto, que nunca se faz ausência é aquela que só podemos encontrar em Deus, na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, que disse aos seus discípulos: “eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mateus 28.20). O verbo usado por Jesus merece atenção! Ele não diz, “estarei” ou “estive”, mas “ESTOU”. À medida que nos entregamos totalmente ao senhorio de Jesus, Ele se faz presente conosco. Não nos deixa. Não nos abandona. Não nos frustra. Não nos decepciona. Sempre presente. Revelando Seu amor, paz, alegria, vida em abundância, graça e misericórdia. Ele não nos deixa nem nos momentos que nos sentimos solitários e nos esquecemos da Sua promessa. Por isso Davi orou confiadamente:
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